Mais prisões implicam em menos crimes?
1 INTRODUÇÃO A relação entre o aumento das prisões e a redução dos índices de criminalidade tem sido objeto de intensos debates acadêmicos e políticos ao longo das últimas décadas. Uma das hipóteses centrais é que o aumento do encarceramento pode influenciar na prevenção de novos delitos de duas formas principais: pela dissuasão e pela incapacitação de criminosos. Primeiramente, a teoria criminológica da dissuasão postula que a punição certa, rápida e severa pode reduzir a criminalidade ao aumentar o risco percebido de captura e penalização pelos potenciais infratores (Beccaria, 1764; Nagin, 2013). Ao considerar que a percepção de risco é um fator determinante para a tomada de decisão racional, o aumento no número de prisões pode atuar como um freio psicológico para a prática de atos criminosos. Estudos empíricos indicam que a maior probabilidade de punição está correlacionada com a redução de determinados tipos de crimes, especialmente os delitos patrimoniais (Durlauf; Nagin, 2011). Em segundo lugar, a incapacitação de criminosos prolíficos é um dos principais mecanismos pelo qual o aumento das prisões pode impactar a criminalidade. Pesquisas demonstram que uma parcela significativa dos crimes é cometida por um pequeno número de infratores recorrentes, cuja remoção temporária da sociedade pode reduzir […]
A arquitetura urbana influencia a distribuição dos crimes?
1 Introdução Na década de 1970 há um marco conceitual no pensamento sobre a etiologia do comportamento criminoso a partir da publicação das obras Defensible Space deOscar Newman e Crime Prevention Throught Environmental Design de Clarence Ray Jeffery. Estas obras influenciaram acadêmicos, agências governamentais, o desenho arquitetônico e iniciativas públicas e privadas de prevenção criminal (Faria, 2023). O Espaço Defensivo ou Espaço Defensável (defensible space) foi um conceito criado porNewman (1972) e introduzido em DefensibleSpace: People and Design in the Violent City. Otermo é usado para descrever o desenho de umambiente residencial projetado para permitir eaté mesmo incentivar os próprios residentes asupervisionar e serem vistos por pessoas defora (não residentes) como responsáveis porseus bairros (Mayhew, 1981; Faria, 2023). A ideia de espaço defensivo relaciona-se a soluções arquitetônicas de recuperação de moradias públicas nos Estados Unidos, obrigando seus moradores a exercer seus naturais instintos de “territorialidade”. Este instinto é perdido quando se constroem grandes prédios de habitação coletiva, em que os moradores mal se conhecem, e onde existe uma variedade enorme de acessos não supervisionados que facilitam a atividade depredadores. A ideia é reduzir esse anonimato não apenas pelo incremento da vigilância natural, mas também diminuindo as vias de escape para […]
Programas de Educação focados na resistência ao abuso de drogas são capazes de reduzir o uso de drogas por crianças e adolescentes?
1 Introdução O programa Drug Abuse Resistance Education (DARE) é uma iniciativa de prevenção de drogas amplamente implementada em escolas, com o objetivo de reduzir o uso de drogas entre adolescentes. No Brasil, o programa recebeu o nome de Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), sendo implementado pelas polícias militares. Apesar de sua popularidade, a eficácia do programa DARE em atingir seu objetivo principal tem sido um assunto de extensa pesquisa e debate. Vários estudos demonstraram que o programa DARE tem impacto mínimo na redução do uso de drogas entre adolescentes. Os tamanhos de efeito para o comportamento de uso de drogas são geralmente pequenos e não estatisticamente significativos. Algumas melhorias de curto prazo nas atitudes dos alunos em relação às drogas, habilidades de resistência de colegas e conhecimento geral sobre abuso de substâncias foram observadas imediatamente após o programa DARE. No entanto, esses efeitos tendem a diminuir ao longo do tempo. Estudos longitudinais indicam que quaisquer efeitos positivos iniciais do programa DARE sobre o comportamento de uso de drogas, atitudes ou autoestima não persistem a longo prazo. Avaliações de acompanhamento até 10 anos após a intervenção não mostram diferenças significativas entre os participantes do DARE […]