A Abordagem Policial à Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA): Aspectos Técnicos, Operacionais e Neurocientíficos
Rodrigo Foureaux Bia Foureaux[1] Resumo O presente texto analisa os aspectos técnicos, operacionais e neurocientíficos da abordagem policial à pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tendo em vista os dados recentes do Censo Demográfico 2022, que identificou 2,4 milhões de pessoas autistas no Brasil. A partir das evidências científicas sobre as características do TEA e da análise prática das interações em contextos de abordagem, busca-se fornecer orientações seguras, eficientes e respeitosas para os profissionais de segurança pública, garantindo legalidade, dignidade e efetividade nas ações. Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista; Abordagem Policial; Neurodivergência; Direitos Humanos; Segurança Pública. 1. Introdução O Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2024, revelou a existência de 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil (IBGE, 2024). Este dado representa um avanço na compreensão da diversidade neurobiológica da população brasileira e, por consequência, impõe desafios e responsabilidades às instituições públicas, sobretudo às forças de segurança, que lidam cotidianamente com a diversidade humana em situações críticas. A abordagem policial, que tradicionalmente se ancora em técnicas de imposição verbal, gestual e, em situações extremas, de uso progressivo da força, deve ser adaptada ao atendimento […]
Tomada de Decisão sob Estresse na Atividade Policial: A Influência do Treinamento na Preservação da Racionalidade Operacional e a Corresponsabilidade Institucional
Rodrigo Foureaux Bia Foureaux[1] Resumo O presente texto aborda, sob a perspectiva da neurociência aplicada, como o estresse extremo influencia a tomada de decisão na atividade policial. Discute-se como situações de risco iminente ativam mecanismos neurofisiológicos que reduzem a capacidade racional, priorizando respostas automáticas de sobrevivência. Em contrapartida, demonstra-se, com base na literatura científica, que o treinamento constante, realista e exaustivo tem a capacidade de mitigar os efeitos do estresse sobre o cérebro, favorecendo respostas técnicas, controladas e eficazes. O texto também propõe uma reflexão crítica sobre a corresponsabilidade das instituições de segurança pública, que, muitas vezes, não oferecem treinamento adequado e, posteriormente, punem seus agentes por respostas operacionais condicionadas por esse déficit formativo. Palavras-chave: Estresse; Neurociência; Tomada de decisão; Polícia; Treinamento; Responsabilidade institucional. Introdução A atividade policial frequentemente expõe seus profissionais a situações de elevado risco, nas quais a tomada de decisão precisa ocorrer em frações de segundo e sob condições fisiológicas adversas. Diante de um cenário de ameaça iminente, como um confronto armado, o cérebro humano aciona sistemas neurobiológicos cuja função primordial é garantir a sobrevivência. Contudo, esse mesmo mecanismo, essencial à autopreservação, compromete a capacidade de realizar julgamentos racionais, favorecendo reações instintivas, muitas vezes desconectadas da […]
Resiliência Psicológica na Atividade Policial: uma revisão bibliográfica
Resumo A resiliência psicológica emerge como um fator crucial para a saúde mental e o desempenho eficaz de policiais, dada a natureza estressante e desafiadora de sua profissão. Esta revisão bibliográfica explora estudos contemporâneos que investigam a aplicação de treinamentos de resiliência em contextos policiais, abordando tanto os impactos na saúde mental quanto no desempenho ocupacional. A pesquisa destaca as abordagens metodológicas e resultados de programas que promovem a resiliência em diferentes forças policiais ao redor do mundo. Conclui-se que a resiliência psicológica atua como fator de proteção contra o estresse e transtornos psicológicos, além de melhorar a qualidade de vida e a eficácia no trabalho policial. Palavras-chave: resiliência psicológica, policiais, saúde mental, estresse ocupacional, desempenho policial. 1 Introdução A atividade policial está indiscutivelmente entre as profissões mais desafiadoras, dada a sua constante exposição a situações de alto risco, violência e traumas. O cotidiano desses profissionais envolve a necessidade de lidar com estressores intensos que, ao longo do tempo, podem gerar impactos significativos na saúde física e psicológica dos policiais. Esse cenário de demandas emocionais e operacionais tem impulsionado o estudo de resiliência psicológica como um fator crucial para a manutenção da saúde mental e do desempenho eficaz em contextos […]
Síndrome de Burnout e a atividade policial
O fenômeno do burnout entre policiais é amplamente investigado pela literatura, que identifica como principais fatores preditores a exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização pessoal. Esses elementos são frequentemente associados ao estresse contínuo e às demandas emocionais do trabalho policial, que exigem dos profissionais um controle rígido sobre suas respostas emocionais em situações de risco (McCarty et al., 2019; Ribeiro et al., 2024). No contexto policial, a exaustão emocional é intensificada pela carga de trabalho excessiva e pela constante pressão para manter um desempenho elevado, o que resulta em desgaste físico e mental. A despersonalização, por sua vez, manifesta-se como uma defesa psicológica, levando o policial a uma postura mais cínica e fria perante o público. Esse distanciamento emocional, embora proteja o profissional a curto prazo, contribui para a erosão de sua capacidade de engajamento no longo prazo. Essa dinâmica aponta para a necessidade de intervenções específicas para lidar com o burnout, reforçando a importância de estratégias que priorizem a saúde mental e o suporte organizacional (McCarty et al., 2019; Ribeiro et al., 2024). A exaustão emocional e a despersonalização são dimensões centrais do burnout e afetam profundamente a saúde mental e a qualidade do trabalho policial. A […]
SUICÍDIO NO MEIO POLICIAL
1 INTRODUÇÃO Segundo a OMS, a taxa global de suicídios vem diminuindo. Entre 2000 e 2019 a taxa mundial diminuiu 36% enquanto nas Américas cresceu 17%, sendo a quarta causa de morte mais recorrente entre jovens de 15 e 29 anos. Os dados levantados para o 17º Anuário de Segurança Pública produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública trazem um cenário de pouca clareza sobre a morte de policiais por suicídio. Em 2022, foram registrados 85 suicídios de policiais militares da ativa, 1 a menos que em 2021. Foram 01 no Amazonas, 06 na Bahia, 03 no Ceará, 03 no Distrito Federal, 03 no Espírito Santo, 04 em Goiás, 02 no Maranhão, 02 no Mato Grosso, 02 no Mato Grosso do Sul, 16 em Minas Gerais, 05 no Paraná, 07 em Pernambuco, 05 no Rio de Janeiro, 01 no Rio Grande do Norte, 05 no Rio Grande do Sul, 01 em Santa Catarina, 16 em São Paulo, 03 em Sergipe. Em todas as outras unidades federativas não houve nenhum suicídio de policial militar em 2022 (Fórum…, 2023). Os perigos inerentes ao trabalho policial, como a possibilidade de vitimização por homicídio ou acidentes, muitas vezes ofuscam as consequências psicológicas desta ocupação. […]
Análise de efeito lúcifer: como pessoas boas se tornam más
Resumo O estudo sobre o “Efeito Lúcifer” apresentado por Philip Zimbardo explora como indivíduos comuns podem ser influenciados por forças situacionais a cometerem atos cruéis. A pesquisa, baseada no famoso Experimento da Prisão de Stanford, revela como o poder, a desumanização, a conformidade e a obediência a autoridades podem transformar pessoas aparentemente normais em agentes de violência. Ao longo do experimento, a dinâmica entre guardas e prisioneiros escalou rapidamente para comportamentos abusivos, mostrando como as circunstâncias e a pressão social podem levar à despersonalização e ao mal. Em contraste, Zimbardo também defende a ideia da “banalidade do bem”, argumentando que o heroísmo pode emergir em qualquer pessoa, dependendo das condições. Palavras-chave: desumanização; conformidade; obediência; mal da inação; banalidade do bem; heroísmo; poder situacional. 1 Introdução O comportamento humano em situações extremas, principalmente em contextos de poder e autoridade, tem sido um tema amplamente estudado pela psicologia social ao longo das últimas décadas. Esses estudos buscam entender como pessoas aparentemente comuns podem ser influenciadas a adotar comportamentos cruéis ou desumanos, especialmente em cenários que envolvem opressão, violência ou sistemas hierárquicos rígidos. O famoso Experimento da Prisão de Stanford, conduzido por Philip Zimbardo em 1971, destaca-se como um dos maiores exemplos dessa […]
A Mente Criminosa: uma análise da obra de Stanton Samenow e contribuições para o estudo da criminalidade
Resumo Este artigo explora a obra de Stanton E. Samenow, A Mente Criminosa, que oferece uma abordagem distinta da criminologia ao focar o comportamento criminoso como uma escolha consciente e racional, ao invés de ser resultado de influências externas como pobreza ou traumas de infância. São analisadas as principais características da mente criminosa descritas por Samenow, tais como egocentrismo, manipulação, desonestidade, irresponsabilidade e insensibilidade, e discutidos os desafios do sistema prisional e da reabilitação. Inclui-se ainda uma seção detalhada sobre a metodologia desenvolvida por Samenow e Yochelson durante 44 anos de pesquisa com detentos nos Estados Unidos. A relevância deste estudo reside em sua contribuição para o campo da criminologia contemporânea e para o entendimento da criminalidade como uma questão de responsabilidade individual. Palavras-chave: Mente criminosa, comportamento criminoso, livre-arbítrio, responsabilidade, reabilitação, encarceramento, metodologia, Yochelson. 1 Introdução O comportamento criminoso tem sido tradicionalmente explicado por diversas abordagens teóricas, muitas delas focadas em fatores externos ao indivíduo. As teorias sociológicas, por exemplo, enfatizam a influência das condições socioeconômicas, culturais, ambientais, interações sociais como um mecanismo que molda o comportamento criminoso. Já as abordagens psicológicas, como a teoria da frustração-agressão e os estudos sobre transtornos de personalidade, frequentemente buscam no histórico de abuso, […]